Infância
e juventude
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu no
município de Oliveira, Minas
Gerais, em 9 de julho de 1878,
filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. O
lugar de seu nascimento foi na
Fazenda Bom Retiro, onde seus antepassados, de ascendência portuguesa, se enraizaram.
Seu pai, cafeicultor, morreu quando tinha
quatro anos de idade, ficando a cargo de sua mãe a administração do cultivo de café e
da criação dele e de seus outros quatro irmãos:
Maria Rita, José (que morreu com três anos de idade), Marieta e Serafim. Eles
vão morar em outra propriedade da família,
a Fazenda Boa Vista, próxima a Juiz
de Fora, também no estado de Minas Gerais.
Em Oliveira, teve convivência direta com três
tios maternos, Cícero, Olegário e Carlos. Os dois primeiros eram advogados formados em São Paulo e incentivaram o sobrinho a se dedicar
aos estudos. Porém, o último, era formado em Medicina e organizou uma casa de saúde na cidade. As ações desse tio o
influenciaram para seguir a carreira médica.
Aos oito anos de idade e já alfabetizado, foi matriculado no
Colégio São Luís, dirigido por jesuítas,
em Itu, interior de São Paulo,
mas foge do internato em 1888,
para ir ao encontro da mãe, em Juiz de Fora, ao saber que os escravos recém-libertados estariam
depredando fazendas. A punição
para essa fuga foi a expulsão de Chagas do Colégio pelos padres jesuítas.
Após encerrar os estudos secundários, Chagas ingressou
no curso preparatório para a Escola
de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria
de vê-lo formado em Engenharia.
Aí, com a companhia de colegas do curso, aderiu a vida boêmia. Adoentado, em 1896, depois de reprovado nos exames, volta para Oliveira.
Estudos
Durante o tempo de recuperação em sua
cidade-natal, seu tio Carlos fortaleceu a vontade de Chagas em ser médico e ajudou-o a vencer a barreira de sua
mãe, que acabou aceitando a opção de seu filho. Seguiu então para São Paulo, para obter os diplomas básicos exigidos para matrícula no
curso médico. Conseguindo tal certificado, em fevereiro de 1897, segue para o Rio de Janeiro a fim de entrar à
Faculdade de Medicina.
Aos 18 anos, passou a cursar a Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, onde este mesmo tio trabalhava, em abril de 1897. Tal faculdade vivia
uma "revolução pasteuriana", pois havia adquirido as teses de Louis Pasteur e estava passando por um processo de
renovação. Chagas, assim, também leva essas ideias adiante em seu trabalho. Ao
longo do curso, dois professores exerceram grande influência em sua carreira: Miguel Couto, que apresentou a Chagas
as noções e as práticas da clínica moderna e com quem passaria a ter uma
estreita amizade; e Francisco Fajardo, que colocou Chagas
no estudo de doenças tropicais,
especialmente da malária, e que
seria de grande importância para sua futura carreira. Assim, esses dois
professores apresentaram os dois caminhos que se abriram para Chagas no
decorrer de seu curso médico: a clínica e a pesquisa
científica.
Concluído o curso, em 1902, para elaborar sua tese para o exercício
da medicina, dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na fazenda de
Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor,
Miguel Couto, a Oswaldo Cruz,
diretor do Instituto, onde teve seu primeiro contato com aquele que veio a
trabalhar, ser seu grande mestre e tornar-se amigo.
Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Chagas
começou a trabalhar no Instituto Soroterápico Federal (que após 1908 passou-se
a chamar Instituto Oswaldo Cruz)
e elege como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sanguínea. Assim, em março de 1903, estava concluído a sua tese, o
"Estudo Hematológico do Impaludismo" e em maio do mesmo ano
terminou seus estudos. Oswaldo Cruz, que assumiu simultaneamente a direção de
Manguinhos e a Diretoria Geral de Saúde Pública, nomeou Chagas como médico do
instituto, cargo que foi recusado por preferir, em 1904 trabalhar
como clínico no Hospital de Jurujuba, em Niterói.
Nesse ano instalou seu laboratório particular no Rio de Janeiro e
casou-se com Íris Lobo, que dessa união nasceriam seus dois filhos, Evandro (em 1905)
e Carlos Filho (em 1910);
ambos seguiriam a carreira médica do pai.
A
descoberta da Doença de Chagas
Em junho de 1907 Chagas
foi enviado pelo Instituto à cidade de Lassance, Minas Gerais, perto do Rio São
Francisco, para combater uma epidemia de malária entre os
trabalhadores de uma nova linha de trem da Estrada de Ferro Central do Brasil,
instalando-se durante dois anos num vagão de trem,
montando um pequeno laboratório e um
consultório para atendimento dos doentes.
Neste tempo, capturou, classificou
e estudou os hábitos dos anofelinos, mosquitos transmissores da doença, e examinou o sangue de animais em
busca de parasitas. Assim, Chagas identificou no sangue de um sagüi uma
nova espécie de protozoário, ao qual deu o nome de Trypanosoma
minasensis. Um engenheiro da ferrovia alertou-o
para a infestação de um inseto hematófago nas
residências rurais, da espécie Triatoma infestans, conhecido como barbeiro,
assim chamado porque suga o sangue das pessoas durante a noite, atacando o rosto delas. Chagas
levou alguns deles ao seu laboratório e percebeu que nos seus intestinos havia
outros Trypanosoma minasensis, já numa fase evoluída.
Por Lassance não ter condições
para uma pesquisa mais aprofundada, enviou alguns exemplares de barbeiros para Cruz,
pedindo que os alimentasse em sagüis. Um mês depois, foi
comunicado da presença de tripanossomos no
sangue dos animais. Voltou ao Rio de Janeiro para confirmar a
pesquisa, e descobriu que não se tratava dos Trypanosoma minasensis,
mas de uma nova espécie. Chagas chamou esse novo parasita de Trypanosoma
cruzi; mais tarde batizou de Schizotrypanum cruzi,
em homenagem a Oswaldo Cruz.
Retornando a Lassance, Chagas
suspeitava que o parasita poderia causar algum mal aos outros animais e aos humanos, visto
que o barbeiro estava sempre em lugares freqüentados por pessoas e o hábito
desse inseto em mordê-las. Recolheu amostras de sangue de um gato infectado em 14 de
fevereiro de 1909 e, em 23 de abril do
mesmo ano, descobriu o Trypanosoma em uma menina de três anos,
chamada Berenice, que apresentava febre e anemia. Tal trypanossoma
foi o segundo descoberto a causar uma doença, a tripanossomíase americana, pois até então
o único confirmado é o causador da doença do
sono, ou tripanossomíase africana, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé.
Também observou inclusões
parasitas no cérebro e no miocárdio dela,
que poderiam explicar algumas manifestações clínicas em pessoas doentes.
Para completar seu trabalho sobre a patologia da
nova doença, o cientista descreveu 27 casos de formas agudas e realizou
mais de cem autópsias de pacientes que tinham a forma crônica da doença.
Se concluiu, então, o ciclo da doença, tendo identificado o vetor (barbeiro), o
agente causal (Trypanosoma cruzi), o reservatório doméstico (gato), a
doença nos humanos (o caso de Berenice) e suas complicações.
Ao longo da pesquisa,
Chagas propôs algumas complicações da doença que, mais tarde, mostraram-se
equivocadas. Exemplo disso foi ao anunciar que o bócio era
um sintoma da tripanossomíase americana. O trabalho que Chagas realizou foi o
primeiro e o único na história da medicina, descrevendo
completamente a nova doença infecciosa: anatomia patológica, o meio de transmissão (Triatoma
infestans), etiologia, suas formas clínicas e sua epidemiologia.
Chagas também foi o primeiro a
descobrir o gênero Pneumocystis, um fungo parasita nos
pulmões dos animais experimentalmente infectados com tripanossoma. Nessa altura
ele não o reconheceu como um organismo distinto
e portanto ele descreveu o gênero Schizotrypanum de
modo a acomodar ambos os ciclos de vida, que ele ilustrou. Porém, a sua
descoberta levou outros a aprofundar a investigação e descrever Pneumocystis como
um gênero distinto, que agora é reconhecido
como um fungo. Chagas,seguia atentamente a literatura e rapidamente confirmou a
distinção, pelo que novamente adotou o nome Trypanosoma cruzi que
havia originalmente cunhado. Pneumocystis é agora
associado a uma outra doença, PCP ou pneumocistose ,
causada por uma espécie (P. jirovecii), mas a espécie original de Pneumocystis,
observada por Chagas em espécies de porquinho-da-Índia, não foi ainda nomeada como
uma espécie separada.
Morte
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